No ano de 1878 o negociante Felice Antonio Bruno e sua jovem esposa, Magdalena Marmo Bruno, desembarcaram no Rio de Janeiro, juntamente com os filhos Rosa, Antero e Miguel. Provenientes de Casalbuono, província italiana de Salerno, fixaram residência na Ilha de Paquetá, na Praia da Guarda, nº 105. Naquela ampla casa, cercada por uma varanda e com frente ajardinada, nasceu Pedro Paulo Bruno, em 14 de outubro de 1888. Pedro Bruno, como veio a ser internacionalmente conhecido, cresceu em meio à plenitude de encantos da ilha, tornando-se um artista imaginoso, dotado de alta sensibilidade e, ao mesmo tempo, um patriota, homem de devotado espírito público, benfeitor de sua terra natal. Era-lhe fácil e natural sentir a arte em suas variadas expressões, exprimindo-a não apenas no canto, na escultura, no paisagismo e na poesia, mas também – e principalmente – na pintura. Esta sensibilidade também permeava suas iniciativas, quer como funcionário público, quer como cidadão.
Aos sete anos de idade Pedro Bruno ensaiava seus primeiros traços, e aos nove já era reconhecido em Paquetá como um desenhista promissor. Nesta época, por ocasião da morte de uma criança cujos pais desejavam ter uma imagem como recordação, o pequeno artista foi chamado às pressas e, ali mesmo no velório, ainda que um pouco assustado, executou o retrato. Em 1897, quando o pintor Giovanni Battista Castagneto esteve em Paquetá, Pedro Bruno imediatamente estabeleceu amizade com o artista, oferecendo-se para transportar seu cavalete, sua paleta e seus pincéis para os diversos lugares da ilha que o artista retratava. O menino ficava horas a observar com atenção o trabalho do mestre, tornando-se um discípulo dedicado ao aprendizado da pintura.
Pedro Bruno foi dotado com outro grande talento, o de cantor. Possuía admirável voz de barítono. Em 1905, aos quatorze anos, embarcou para a Itália com o objetivo de estudar nos Conservatórios de Nápoles e de Roma, de onde retornou diplomado em canto lírico. Trabalhou no Conservatório de Música, no Rio de Janeiro, e, sob a direção do maestro De Lucio, percorreu Belo Horizonte, São Paulo e Santos em tournée artística.
Em 1910, de regresso a Paquetá – novamente envolto e seduzido pelas belezas naturais da ilha – Pedro Bruno percebeu que era a pintura a atividade que o empolgava. Indiferente às dificuldades que sua corajosa decisão poderia acarretar, iniciou, de maneira autodidata, uma nova carreira. Sozinho pelas praias, com seu material de pintura, seguiu retratando incansavelmente os lindos recantos da Ilha. Em 1912 recebeu a Medalha de Bronze, do Salão de Belas Artes, pela paisagem marinha intitulada “Manhã Azul”. Suas telas impunham-se pelo empenho técnico, com o que Pedro obteve o respeito da crítica especializada. Mas foi o elemento sensorial – a amálgama de sinceridade e capacidade de traduzir estados de alma – que aproximou Pedro Bruno do grande público. Foram exemplo desta receptividade os elogios que recebeu por seu quadro “Sentinela da Pátria”, exposto no salão de espera do cinema Orion, em Campos. Naquele ano de 1917, a obra provocou admiração em todos que por ali passavam, por traduzir a alma brasileira e por falar diretamente ao coração do povo.
Com o intuito de aprimorar sua técnica, Pedro Bruno ingressou na Escola Nacional de Belas Artes em 1918. Seus professores foram os grandes mestres João Baptista da Costa e Jose Boschetto. Em agosto do ano seguinte, o Conselho Superior de Belas Artes conferiu-lhe o “Prêmio de Viagem” da 26ª Exposição Geral. A consagração foi considerada como absolutamente justa por seus próprios colegas e professores, pois nesta época o artista já havia alcançado todas as premiações que, por força do regulamento, deveriam precedê-la. O quadro vencedor intitulava-se “Pátria”, uma concepção cívica que simbolizava a construção da pátria brasileira ao retratar um grupo de mulheres simples que, de maneira dedicada, costuravam a Bandeira Nacional. Sobre esta premiação, Coelho Netto escreveu em artigo para o jornal “A Noite”, em novembro de 1919: “O júri naturalmente votou o prêmio ao pintor pela execução da obra, eu votaria pelo poeta que soube vestir uma idéia augusta com o pano sagrado em que se envolve a Pátria!”. Em 1920, antes de seguir para a Itália, Pedro Bruno teve suas obras expostas em São Paulo, no salão anexo ao cinema Central, na Avenida São João, com grande sucesso de público e de crítica. Ainda neste ano, a Galeria Jorge, no Rio de Janeiro, organizou uma exposição com 70 quadros do pintor. Os cariocas, igualmente, festejaram a mostra.
Ao chegar a Roma, Pedro Bruno inscreveu-se para a prova de admissão ao curso de pintura da Academia Inglesa, famosa instituição de ensino artístico. Classificou-se em 3º lugar em meio a 65 candidatos italianos e estrangeiros. Decorridos apenas seis meses de sua matrícula, já era convidado pelos dirigentes da instituição para reger aulas de modelo vivo. Na Itália, o artista estudou, lecionou, recebeu elogios da imprensa e deixou vários quadros – dois no Museu de Salerno e os demais em galerias particulares.
De volta ao Brasil em 1922, foi recepcionado com grandes homenagens pela população e pelas autoridades de Paquetá. Mesmo levando em consideração o aperfeiçoamento obtido em sua arte e o êxito alcançado na Europa, Pedro Bruno dizia-se mais nacionalista do que nunca. O pintor instalou seu ateliê ao fundo do conjunto principal da casa onde residia, em Paquetá, e assumiu o papel de zelador das belezas da ilha, embora viesse a possuir no Centro do Rio, à rua do Teatro, outro pequeno ateliê.

“O Precursor”, uma apoteose a Tiradentes, obra executada ainda na Itália, encontra-se hoje no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro. No mesmo ano de seu regresso conquistou a Medalha de Ouro do Salão de Belas Artes, com o quadro “Mãe”.
O trabalho de Pedro Bruno, exposto em São Paulo em 1924, foi acolhido com admiração pelos meios artístico e intelectual paulistanos, tendo se destacado os quadros “Guanabarinas” e “Anunciação”, que atraíram especial atenção dos visitantes. O pintor foi grande colaborador do Salão Paulista de Belas Artes até o ano anterior ao de sua morte. Em retribuição, dentre outras homenagens, a Prefeitura da Cidade de São Paulo batizou com seu nome uma rua do bairro de Butantã.
Ao longo de sua carreira artística, Pedro Bruno expôs seus quadros em várias cidades do Brasil, tais como Recife, Curitiba, Santos, Vitória, Campos, Teresópolis, Pelotas e Porto Alegre, e também em Rosário de Santa Fé, na Argentina. Angariou admiradores leigos e especializados por onde passou, e ainda diversos prêmios e medalhas. Em 1943 recebeu a Grande Medalha de Honra, considerada a maior premiação para um artista no Brasil, com seu quadro “Sonata ao Luar”, que encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Há obras de Pedro Bruno nos seguintes locais: Museu da República (RJ), Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu Histórico Nacional (RJ), municipalidades de São Paulo e de Curitiba, Pinacoteca da Sociedade Brasileira de Belas Artes e no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. O quadro “Contemplativa” encontra-se no Museu de Estocolmo.
Pedro Bruno ocupou o cargo de Oficial Administrativo da Prefeitura de Paquetá, comissionado como zelador do cemitério local. Nesta função, além de ter executado a reforma total da capela, toda em pedra, Pedro doou à instituição duas de suas obras – “Cristo ao Luar” e “São Francisco falando aos pássaros” – e implementou trabalhos de jardinagem que transformaram o campo-santo num parque florido, um local atrativo para visitação. Mas seu amor a Paquetá, seu senso estético e seu idealismo levaram-no a atuar, efetivamente, como zelador de toda a ilha. Com o intuito de preservar o patrimônio paisagístico e realçar os encantos naturais de Paquetá, Pedro criou a Liga Artística, juntamente com um grupo de apaixonados pela ilha que incluia Augusto Silva, Angelo Di Franco, Alambary Luz, Alfredo Brasil, Gen. Alípio Costallat, Dr. Antonio Ferreira, Áurea Modesto Leal, Gen. Agra de Lacerda, Diogo Leivas, Comte. José Henrique Bahia, Dr. José Thedin Barreto, Luiz Marques Poliano, Dr. Lívio Porto, Gen. Mena Barreto, o escritor Vivaldo Coaracy, o cronista e poeta Waldomiro Ferreira, dentre outros sócios. Visando chamar atenção para a importância da preservação da natureza, eram realizadas festas comemorativas das árvores e dos pássaros. Inaugurou em diversas praias e praças, bustos, hermas, placas e marcos em homenagem a personalidades de destaque, lembrando-se sempre dos índios, seus primeiros habitantes. Era visto com freqüência a caminhar pela ilha, com seu chapéu, conversando com os moradores, numa atitude de simplicidade e modéstia que contrastava com o que se esperaria de um nome consagrado da arte brasileira – “as seduções da glória humana não o fascinavam”
Um edema pulmonar agudo levou-o embora dois anos após a perda de sua esposa, no dia 2 de fevereiro de 1949, enquanto trabalhava em seu ateliê, no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Magda, Hélio, Lia e Fábio. Foi sepultado no cemitério da ilha que amou e imortalizou em suas telas, na presença da população consternada
Em 1966 os filhos de Pedro Bruno organizaram, na residência do artista, uma exposição póstuma que apresentava cerca de 100 trabalhos, alguns inéditos, outros inacabados, como “Amor Eterno”. O evento objetivava proporcionar à população da ilha e a seus visitantes a proximidade com os inúmeros trabalhos do consagrado pintor. Outra expressiva homenagem póstuma foi a exposição inaugurada em 1º de novembro de 1949, no Salão Assírius do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, de 180 telas do artista. A mostra foi organizada por seus filhos e patrocinada pelo prefeito Mendes de Morais, sob os auspícios da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Na ocasião, o vereador Álvaro Dias propôs-se a apresentar à Câmara Municipal do Rio de Janeiro um projeto para transformar em Museu a casa de Pedro Bruno, em Paquetá. No local havia telas, além de croquis, estudos, objetos de arte e material de trabalho. Em 1950, através do Projeto de Lei nº 61, a Câmara do Distrito Federal aprovou a criação do Museu Pedro Bruno. A falta de verba, no entanto, impediu a concretização da proposta.
O último grande trabalho de Pedro Bruno foi a tela “Gonçalves Dias”, pintada no ano anterior ao de sua morte. Pedro recebeu, em 1948, a derradeira homenagem em vida: um busto do artista e benfeitor foi erguido na praça que leva seu nome. A obra, cinzelada por Paulo Mazucheli, tem como legenda.
“O poeta da cor, das árvores e dos pássaros”.